domingo, 18 de agosto de 2013

Prontas para guerrear

Prontas para guerrear


Trabalhar é maravilhoso, Independence Woman! Porém, trabalhar em um local onde a figura masculina predomina, é muito estressante. Sofremos preconceito integralmente, temos que ouvir frases ridículas e teorias vazias de atividades que “as mulheres podem e não podem executar” nos limitando através de um discurso irracionalmente elaborado, para ocasionar a exclusão feminina.  Foi pensando nesse fato que me veio à mente a trajetória de Agnés Humbert.  Agnés foi a Historiadora que possuía um cargo importante no Museu Nacional de Artes e Tradições Populares, na belíssima França. Acredito que minha mente foi buscar as lembranças da vida de Agnés por ela ser a Mulher que desafiou Hitler ao criar um jornal chamado Resistência ( seu livro, escrito em forma de diário, tem o mesmo nome), ao mesmo tempo em que divulgava e escrevia panfletos e outros textos com o objetivo de lutar contra o governo de Vichy.

               Agnés conta por meio de uma narrativa corajosa e irônica, a sua resistência diante dos acontecimentos vividos no período de 1940 a 1945. Apesar de ter a consciência dos perigos enfrentados, da humilhação e horrores vividos, ela não tinha medo de enfrentar os oficiais devidamente armados com seus gritos intimidantes. Como resposta a esses momentos, ela sempre tinha uma atitude sarcástica e superior de lidar com os inimigos. E apesar de toda “encenação e picadeiro” montado pelo exercito alemão, ela sempre conseguia irritá-los por demonstrar indiferença e um falso conhecimento dos fatos. Agnés era uma mulher extremamente inteligente que possuía um senso de humor difícil de ser compreendido pelos oficiais do Terceiro Reich. Passou pelas seguintes prisões: CherChe-Midi, Lá Santé e Fresnes. Além de ter feito trabalhos forçados na fabrica “Phirix.” Sobre o seu interrogatório, ela disse o seguinte:

“Todos gritam juntos, enquanto um grande aparelho de rádio transmite, no volume mais alto possível, sei lá que música. É uma algazarra indescritível. Por que diabos me vem à cabeça, a essa altura, o filme dos tempos heróicos do cinema mudo, O gabinete do Dr. Caligari? Sem dúvida o lado irreal dessa cena imbecil, que ao que tudo indica deveria servir para me impressionar, me recorda tudo que o Dr. Caligari tinha de irracional” (Resistência. p.66). Adoro essa parte do livro!

Talvez ela nunca imaginasse que depois de tantos anos, muitas mulheres iriam fazer das suas palavras (de maneira contextualizada) um “mantra” de vida e luta.

Muitos historiadores do sexo masculino insistem em deixar as mulheres de fora das lutas que marcaram a humanidade. Graças aos registros e diários de guerra, nós podemos conhecer a parte omitida em alguns livros. O século que marca a entrada da figura feminina nesse cenário é o século 20. “Em 1917 Maria Bochkareva comandou o Primeiro Batalhão da Morte, um pelotão russo formado somente por mulheres”. É nesse mesmo período que as mulheres começam a ocupar trabalhos que antes eram exclusivamente masculinos; como por exemplo, dirigir ônibus e trabalhar na produção bélica. E como os conflitos não pararam, as mulheres foram se encaixando gradativamente em novas funções. É o caso da 1º guerra mundial e da 2º guerra. Ocupando funções como: oficial de exército, espionagem e decisões estratégicas.
 Outras mulheres que também marcaram esse período

Flora Sanches, a enfermeira que ocupou o cargo de soldado entrando para a história como a primeira mulher a lutar em um exército oficialmente.  “Ela enfrentou as trincheiras como seus camaradas – comeu a mesma comida, dormiu debaixo dos mesmos trapos e dividiu com eles seus últimos cigarros e restos de pão.” Sanches também escreveu um diário.
Vera Atkins coordenou uma rede de quase 500 agentes infiltrados na França Ocupada, tornou-se uma célebre espiã da Segunda Guerra, “além de ter sido a inspiração para o escritor Ian Fleming criar a inesquecível personagem Miss Jane Moneypenny, dos romances de James Bond.”
A francesa Odett Samson foi designada para atuar ao lado do oficial britânico, Peter Churchil, ela também retirava informações estratégicas dos soldados nazistas na França. Foi torturada pela Gestapo e mesmo assim nunca revelou aos inimigos as atividades da SOE (Divisão de Operações Especiais).
Noor Inayat Khan era considerada uma princesa indiana por ser filha de um líder sufi. Alistou-se na Cruz Vermelha e posteriormente juntou-se a Força Aérea Britânica, além de ter sido admitida com espiã. Infelizmente foi capturada e enviada ao campo de extermínio de Dachau, onde faleceu antes do final da guerra.
Violette Szabo fez parte do serviço secreto britânico. Foi presa por duas vezes pela Gestapo e ainda assim conseguiu fugir. Da terceira, não conseguiu obter êxito. Foi enviada a Ravensbrück, onde foi executada.
Yvonne Oddon trabalhava como bibliotecária do Museu do Homem. Envolvida com a criação e divulgação do Jornal Resistência. Foi detida em 1941 na prisão de La Santé.(Era amiga de Agnés)

Essas são apenas algumas das muitas mulheres que arriscaram suas vidas por uma causa nobre lutando não apenas por seus direitos individuais, mas de forma coletiva. Elas ocuparam e conquistaram um espaço que antes ou ainda hoje, a sociedade não consideraria aceitável para o sexo feminino, restringindo dessa forma, nossos atos e nos colocando em uma caixa com um lacre escrito a seguinte palavra: “Frágil”. Foi lendo sobre essas mulheres que pude apenas confirmar o que já sabia, somos diferentes e temos limites diferentes... Uma mulher não pode ser desmerecida porque o homem acredita que seu trabalho é “leve” comparado ao dele. Essas mulheres (assim como algumas mulheres de hoje) ultrapassaram seus próprios limites, enfrentaram seus medos e conquistaram seus objetivos. São dignas de respeito e de serem lembradas!

Referências
Guerras e Conflitos do século 20. Revista História de BBC. Ano1, ed. nº 2.(p.38-41)
HUMBERT, Agnés. Resistência. A história de uma mulher que desafiou Hitler. Agnés 



Um comentário:

  1. e Maria Bonita... sim, a história é feita também pela atuação de grandes mulheres, nas mais diversas áreas... desde pequeno, quando lia os livros oficiais, eu me perguntava se houvera um tempo em que não existiam mulheres, pois sendo elas essenciais em minha vida - minha mãe, minha professora, minha irmã - como deixariam de sê-lo para o mundo? aos poucos estamos conseguindo resgatar a verdadeira história, mas é importante que as mulheres de hoje façam como voce, apareçam e ocupem seu lugar na história do hoje...

    ResponderExcluir