sábado, 27 de julho de 2013

Plínio Marcos e Michel Foucault: Uma relação ocasionada pelo poder

Plínio Marcos e Michel Foucault: Uma relação ocasionada pelo poder

Para quem gosta de assistir a telejornais para se manter atualizado sabe que infelizmente a violência é um assunto sempre presente. Foi pensando nesse fato que lembrei-me das palavras do escritor contemporâneo Plínio Marcos em entrevista a Jô Soares, quando se referia a essa temática em sua obra Navalha na Carne. Ele disse o seguinte: “Nessa situação em que o país se encontra a peça vai virar um clássico”. Essas sábias palavras foram ditas em 1988, estamos em 2013 e a violenta realidade não se modificou positivamente. Partindo desses dados eu posso concluir que suas obras continuam fazendo sentido na compreensão da sociedade.
 Plínio Marcos é um escritor contemporâneo muito respeitado e admirado, mas nem sempre foi assim. No passado ele sofreu muito preconceito por trazer em suas obras uma característica única e crua de relatar o cotidiano. Foi censurado no tempo da ditadura militar e após a ditadura, continuou sendo censurado pela mídia e críticos elitizados. Suas obras: Querôuma reportagem maldita, O abaju Lilás, Dois perdidos numa noite suja, Navalha na Carne e A mancha roxa são as minhas preferidas. Elas falam da realidade renegada pela sociedade; sua abordagem mostra de forma impactante a difícil e desumana forma de vida desconhecida de alguns de nós(estou inclusa) e presenciada pelas pessoas que vivem “a margem social”. Ele fala “daquele homem que só come da banda podre, das pessoas que moram a beira do rio e que quase se afogam cada vez que chove” (Plínio Marcos em entrevista a Jô Soares em 1988).

     Plínio Marcos fez parte do teatro alternativo e do movimento sociocultural Geração Mimeógrafo, que buscava uma forma diferente de expor sua arte diante de tantas proibições políticas e censuras. Apesar de ser um dos mais importantes dramaturgos desse país, Plínio Marcos dizia que a sociedade o marginalizava por ele trazer em seus livros assuntos ignorados. Ficou desempregado e passou a vender seus livros em restaurantes, filas de teatro, nas ruas, praças etc. Em sua contribuição intelectual ele nos mostra a relação do poder dentro da sociedade como algo que serve de método para punição e que pode variar entre violência física, imposição e domínio para controlar o outro. Foi neste momento que identifiquei uma relação entre a ficção literária do escritor em questão e a teoria de Michel Foucault. 
“De Foucault até Plínio Marcos muito poder pode ser colocado em questão.” Foucault trouxe um estudo mostrando o poder de forma dinâmica, as diferentes tecnologias do poder. Plínio abordou esse poder dinâmico em suas obras; saímos da teoria e vamos para a ficção espelhada na realidade. Plínio escreve de forma naturalista trazendo uma metáfora do poder entre classes sociais; no uso do desconhecido para dominar o outro e na vingança usada por aqueles que vivem a “margem” da sociedade, procurando modificar a situação de dominado para dominante usando de métodos violentos.
Ambos escritores tinham em suas respectivas escritas uma preferência por figuras que estão à margem do padrão aceitável socialmente. Foucault escreveu sobre os leprosos, os criminosos, os desviados, os hermafroditas, os assassinos etc. Plínio Marcos escreveu sobre personagens com doenças venéreas, preconceito, viciados, assassinos, drogados, prostitutas etc. Essas pessoas lembradas por Foucault são representadas na ficção criada por Plínio Marcos. O ponto de encontro na escrita dos dois é percebido quando nós, na condição de leitores reflexivos, concluímos que tudo tem poder, a palavra tem poder. O poder é mutável, ele passa de uma mão para outra excluindo a maioria e favorecendo um padrão criado por uma minoria dominante. Foucault foi o primeiro a colocar no discurso a questão do poder, visto que antes não tinha sido explorado dessa forma. Ele, assim como Plínio Marcos, analisou a sociedade em momentos diferentes, contudo, essas diferenças se unem para contribuir de forma considerável com o contexto atual.



Gente, desculpas pela demora na postagem! Processo de mudança e muito trabalho!Aos poucos vou atualizando os emails recebidos e visitando os blogs que tanto gosto!

Beijos!!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Rainha do Crime

Na literatura há diferentes tipos de narrativas, no entanto, a que eu mais gosto é o romance. Talvez seja pelo fato dele apresentar várias personagens envolvidas entre si, por uma trama conflituosa que gradativamente vai construindo o enredo. Por meio de uma perspectiva panorâmica podemos perceber que novos tipos de narrativas foram sendo criadas, permitindo a abertura de lugares não explorados. Foi dessa forma que o Romance Policial conquistou seu espaço nas narrativas, modificando-se conforme a sociedade que o contextualiza.

Neste gênero literário, os escritores mais tradicionais (os “clássicos”)  que tiveram algumas de suas obras recriadas ao estilo Pastiche, são os de nacionalidade inglesa. (Pastiche é a imitação de um estilo ou de vários estilos. O livro de Jô Soares, O Xangô de Baker Street, é um Pastiche de Sherlock Holmes). Hoje, quero falar sobre a escritora inglesa que é referência em Romance Policial, Agatha Christie. Possuindo um histórico de causar inveja em qualquer escritor, Agatha é autora de oitenta romances que foram traduzidos para 45 idiomas. Ou seja, a “bagagem” dela é bem pesada...

Quando um querido leitor (Thyago) deste blogger me disse de forma direta que gostava de Agatha Christie, eu entendi o recado e cuidei logo em fazer a postagem. Porém, fazia muito tempo que eu não lia nada da escritora em questão. Então, tratei logo de refazer a leitura optando pelos livros: O Natal de Poirot e Assassinato no Expresso do Oriente. Ambos possuem o inteligente e mais famoso personagem criado por Agatha, Monsieur Poirot.
Para fazer a leitura e entra no clima do suspense, escolhi ler os livros durante a madrugada, melhor horário para um silêncio absoluto e uma pequena claridade, além de ser um clima propício para uma leitura carregada de intrigas, mentiras, espanto, mistério, medo, morte... Agatha Christie me envolveu em uma trama condensada, me senti encantada e traída por uma desordem misturada com falsos indícios e detalhes minuciosos que passaram despercebidos. O enredo é construído com a genialidade de quem conhece o assunto, desmistificando o crime perfeito e causando-me uma sensação de que um ato fora do comum (um crime)  que atinge o bem estar social, deve ser punido. 
Há na trama algo que nos remete a realidade, essa sensação é percebida por causa da verossimilhança entre os assuntos que são recorrentes da sociedade e a cientificidade utilizada pelo detetive para desvendar o caso. No fim consegui compreender o porquê de tanto sucesso. Agatha Christie deixou sua criação literária registrada na história da literatura, atribuindo-lhe uma característica de cânone por sobreviver às modificações sociais. 

Beijos!