sábado, 25 de maio de 2013

Seu nome é Nauro Machado, você o conhece?


Quero te apresentar o grande poeta Nauro Machado!





Hoje senti uma imensa vontade de ler os poemas do meu poeta preferido no mundo inteiro, Nauro Machado. A primeira vez que fiz a leitura dos poemas desse escritor, pude saborear o seu trabalho através da edificação de suas palavras para finalmente alcançar o âmago de sua significação. Nunca esquecerei o dia em que por um pequeno momento eu, enquanto leitora e admiradora, pude me observar diante do autor do poema O Parto, onde ele descreve que o “ser poeta difere do estar poeta”.


O Parto


Meu corpo está completo, o homem - não o poeta.
Mas eu quero e é necessário 
que me sofra e me solidifique em poeta, 
que destrua desde já o supérfluo e o ilusório 
e me alucine na essência de mim e das coisas, 
para depois, feliz e sofrido, mas verdadeiro, 
trazer-me à tona do poema 
com um grito de alarma e de alarde: 
ser poeta é duro e dura 
e consome toda
uma existência.

Meus amigos e eu tivemos o prazer de sermos convidados pelo nosso professor acadêmico para prestigiarmos no Centro de Criatividade Odylo Costa Filho em São Luís, uma palestra em homenagem a Nauro Machado. Eu, como uma verdadeira “tiete”, não pensei duas vezes e fui assistir. Chegamos muito cedo ao evento, e para nossa surpresa ele já estava no local. Essa artimanha nossa nos rendeu a uma sessão de fotos exclusivas, além de trocarmos carinho com nosso querido Nauro Machado!! E para completar a nossa felicidade, a escritora Arlete Nogueira, esposa do Nauro, também estava no local. Foi realmente um lindo dia! 
Outro poema que me remete a uma reflexão conflituosa sobre o comportamento da sociedade em que vivemos é o poema Fila Indiana.

FILA INDIANA

Um atrás do outro, atrás um do outro,
ano após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século
após séculos, continuam

(a conduzir seus madeiros
na perícia dos próprios dramas).

um após do outro, atrás um do outro,
anos após ano, ano após outros,
minuto após minuto, século
após séculos, e de novo

um atrás do outro, atrás um do outro,
até a surdez final do pó.
Nauro Machado.

Gostaria de acrescentar o quanto é muito triste o fato de que mesmo aquelas pessoas que se dizem admiradoras da Literatura não conhecem o grande poeta Nauro Machado. Porém, não devemos nos culparmos na íntegra, infelizmente as nossas escolas não fazem a leitura das obras do Nauro e poucos são os docentes que se quer ouviu falar dele. Para os interessados, ele nasceu em São Luís do Maranhão, em Agosto de 1935 e o melhor, quem mora em São Luís ou vem a passeio pode ter a sorte de “esbarrar” de vez em quando com ele pelas ruas do Centro Histórico. Nauro possui um conjunto obras literárias dignas de consagração, originárias de uma mente extremamente fecunda.
Alguns de seus livros:

                                 
       



 

terça-feira, 21 de maio de 2013

Poesia de Pedra


                                          Poesia de Pedra


Como faço uma escultura? Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo o que não é necessário”. Michelangelo.

 Amo inexoravelmente Jane Austen. Tenho todos os seus livros, adaptações cinematográficas de suas obras, séries adaptadas pela BBC e até papel de carta com a “imagem” dela... O que eu posso fazer? Foi amor a primeira leitura!  O que Jane Austen tem em comum com a frase dita por Michelangelo? Acredito que nadinha!? Talvez o fato de ambos serem criadores de obras eternizadas!
Contudo, quando eu estava assistindo (pela milésima vez) a versão mais recente (2005) de Orgulho e Preconceito, sempre me encanto com uma cena linda onde a Elizabeth entra na casa do Sr. Darcy e se depara com um acervo de esculturas gregas, a cena é tão sensível e artística que chega a transpirar poesia, a personagem se perde no tempo atravessando os séculos através das obras de arte.
Inspirada nesta cena de Elizabeth gostaria de compartilhar as obras de arte que mais admiro através de um painel com algumas imagens esculpidas com perfeição em blocos de mármore, herança da mitologia helênica que com minucioso cuidado conseguiu conquistar contornos reais.  “Quando ganho meu tempo” admirando as obras do mundo grego esculpidas em mármore, sempre reflito que elas também possuem de alguma forma a mesma intenção que a fotografia, apesar de a fotografia utilizar aparatos tecnológicos, enquanto a escultura era esculpida apenas com algumas técnicas, ferramentas e instrumentos manuais. Ambas servem como um meio de registrar imagens para a posteridade nos contando histórias de um povo, de uma geração, suas crenças e costumes.  Seus valores são de extrema importância para que possamos compreender nossa identidade histórica e cultural.

                                                                           PAINEL


Tesouro Genuíno: Vênus de Milo, a mais famosa representação da deusa Afrodite, foi encontrada por um camponês, em 1820, na ilha de Milo- e, logo em seguida vendida a um francês por meia dúzia de cabras.










 Indomáveis guerreiros: Teseu e o centauro se enfrentam, em escultura do italiano Antônio Canova, do século XVIII. 













 Ares Ludoviside, de Lorenzo Bernini. A escultura do artista barroco italiano do século XVII personifica Ares, o deus da guerra. 
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Versão romana de Apolo, o deus grego da música, com sua inseparável lira. Em exposição nos Museus Capitolinos, em Roma.














Atlas o titã condenado por Zeus a carregar o mundo para sempre em suas costas. Tem uma escultura muito mais bela nas ruas de Pafhos, Chipre. 






Adônis e Afrodite, em irretocável obra-prima de Antônio Canova.


A imagem que eu tenho de Adônis e Afrodite em minha revista de história é muito mais nítida, pela internet eu só encontrei essa, acredito pela legenda que é a mesma, visto que se encontra o nome do escultor logo  abaixo.



 Zeus e Ganimedes- transformação em águia, o deus carregou até o Olimpo o belo mortal por quem se apaixonou. Escultura do dinamarquês Bertel Thorvaldsen.






 Armado com o escudo de bronze de Atena, sandálias aladas, o capacete de Hades e uma afiada espada de aço dada por Hermes, o herói Perseu decepou a cabeça de Meduza, uma das três górgonas. Cópia de estátua de bronze de Benvenuto Cellini.







Provável aparência da estatua de Atenas: centro das atenções no antigo Partenon (parthenos significa "virgem" em grego). Ela é a deusa da sabedoria, razão e equilíbrio. 








Referência

Revista História da BBC: Mundo grego, dos deuses e mitos às guerras e heróis. Ano 1, edição nº 9, p.26-29.

“Adoramos as imagens e desprezamos os que as esculpem” Sêneca, filósofo romano, séc. 1d.C.







sábado, 4 de maio de 2013

O tempo, a sinestesia e o fator histórico em Benjamim de Chico Buarque

O tempo, a sinestesia e o fator histórico em Benjamim de Chico Buarque



Benjamim é o segundo romance de Chico Buarque e foi publicado em 1995. Quando comecei a leitura do livro, tive a sensação de estar diante de um filme que se inicia na última cena, onde a personagem principal, Benjamim Zambraia se encontra diante de um pelotão de fuzilamento. A partir desse momento ele é transportado no tempo através das suas lembranças, fazendo a iniciação de toda sua trajetória de vida até chegar ao momento atual. Chico Buarque usa o que a Literatura chama de In Media Res, expressão latina retirada da Arte da Poética de Horácio, ou seja, iniciar sua narrativa pelo meio da ação ou pelo momento crucial. Os acontecimentos que são omitidos no início da ação são retomados através do flash-back ou analepse, que significa interromper uma sequência cronológica mudando o plano temporal, tal como acontece em alguns filmes.
A narrativa criada por Buarque é dividida entre o ato de narra e o visual. A personagem que era um ex-modelo fotográfico adquire na adolescência uma “câmera invisível” para registra seus acontecimentos e posteriormente usá-los para recuperar suas lembranças. Sua narrativa é construída com imagens, apesar de não depender apenas delas. Essa formar de escrever combinando dois sentidos nos remete a sinestesia, figura de estilo que reuni sensações distintas. O romance “gira” em torno da temática Tempo, sendo abordado através da representação da Pedra do Elefante, da rotina da personagem Ariela Masé e da desordem cronológica vivida por Benjamim.  
Primeiro Benjamim faz uma comparação entre o tempo de vida de um ser humano com a existência da Pedra: “Benjamim estava certo de que, por mais que vivesse, jamais detectaria a mínima transformação na Pedra, pois no relógio das pedras a longevidade humana não conta um segundo”. (p.53). Ao longo dos tempos, a “Pedra” presenciou várias civilizações e Benjamim prefere viver de frente para ela ao invés de olhar a sociedade. Já a personagem Ariela Masé, não precisa de relógio por ter noção exata das horas. Porém, no dia em que ela usa um relógio de pulso e resolve tomar um caminho diferente, tudo foge do seu controle: “o relógio mental de Ariela soltou-se o tempo: em sua engrenagem teria se quebrado alguma peça, talvez a ruela chamada rotina” (p. 122). Sabemos que a rotina nos faz ordenar o nosso tempo, isso acontece porque os nossos sentidos se adaptam a força do hábito. E por fim, Benjamim busca no presente o resgate do passado através da personagem Ariela, além concluir que por causa disso seu futuro pode estar preso ou como ele mesmo diz “amarrado”.
O regime militar aparece como representação do fator histórico. A personagem Castana Beatriz, antiga namorada que Benjamim teve na década de sessenta, após abandoná-lo se envolve com um militante político de esquerda e posteriormente são mortos pelos ditadores na repressão do Estado. A ironia é que o esconderijo deles é descoberto porque Benjamim que também estava sendo investigado por seu envolvimento com Castana. Como ele tinha uma fixação por ela, vivia tentando descobrir onde ela estava com seu novo amante. Numa dessas perseguições ele finalmente a encontra e por esta sendo seguido acaba sem querer delatando o esconderijo para polícia. E é essa mesma fixação que leva Benjamim a morte. Alguns anos depois, ele encontra Ariela Masé e por ela ser tão parecida com Castana começa a deduzir que talvez ela fosse filha dela, mas, no decorrer do romance acaba se apaixonando pela jovem. Essa obsessão o coloca diante de um pelotão de fuzilamento contratado pelo namorado de Ariela, o ex-policial Jeovan. O detalhe é que Benjamin morre no mesmo local que morreu Castana Beatriz, novamente o tempo fica em evidência. Passado, presente e futuro misturam-se mostrando a única certeza humana, a morte.


Referências
BUARQUE, Chico. Benjamim. São Paulo: Companhia das Letras,2004.
PIRES, Orlando. Manual de Teoria e Técnica Literária. Rio de Janeiro, Presença, 1981, p. 103.
Horácio, Arte Poética. Lisboa, 1984.

Estudo concluído por Priscila no dia: 04/05/13 para apresentação de seminário na disciplina Literatura Brasileira Contemporânea.